sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O antiambientalista

O antiambientalista

Estatístico dinamarquês enfurece
ecologistas ao pôr em dúvida
dados que prevêem catástrofe
ambiental no planeta

Poucas pessoas atiçaram tanto a ira dos ambientalistas quanto o estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg, 37 anos. Em seu livro O Ambientalista Cético, recém-lançado no Brasil, ele desafia os cânones do ambientalismo moderno e derruba uma a uma as previsões catastrofistas dos últimos anos. Em entrevista a VEJA, Lomborg, ex-simpatizante do Greenpeace, explica por que começou a desconfiar dos dados apresentados pelas organizações ecológicas. Ele se impressionou com a entrevista de um economista que desmontava todas as teorias que previam as catástrofes ambientais. "Achei um absurdo e resolvi testar todas as hipóteses apresentadas por ele. Acabei percebendo que ele tinha razão."

Veja – Pelo que o senhor pesquisou, houve algum período da história pior que o atual?
Lomborg – Em geral, pode-se dizer que a tentativa de subjugar a natureza sempre foi o grande desafio do homem. Um dos indicadores primários de bem-estar é a longevidade. Passamos a maior parte de nossa história vivendo 30 anos, em média, e há dois anos a ONU calculou a estimativa média de vida em 67 anos. Nós dobramos nossa expectativa de vida em pouco mais de um século. O fato é que passamos toda a nossa história brigando com a natureza, e agora que estamos bem de saúde, e ricos, resolvemos que queremos mantê-la. Queremos resguardar nossos recursos naturais. Veja quantos países estão transformando suas florestas em reservas ou fazendo reflorestamento. Os ricos podem pagar por isso. É preciso ficar rico para preservar o meio ambiente, porque essa preocupação é um luxo para quem tem fome. Se você está prestes a morrer, não se preocupa com a natureza, somente luta contra ela. Apenas quando se está bem nutrido é que se começa a ter maior preocupação com a natureza. Só agora as nações mais desenvolvidas têm recursos para cuidar dela, e acredito que isso também acontecerá com os países em desenvolvimento em cerca de cinqüenta anos.

Veja – Mas as pessoas não cuidam do meio ambiente em interesse próprio? Se ele se deteriora, a vida na Terra fica insustentável, e não seria esse raciocínio que justificaria o investimento em causas ambientais?
Lomborg – Certamente. Pode-se olhar o caso da poluição do ar. Os melhores dados disponíveis referem-se a Londres. Temos estatísticas desde 1585 até hoje. A poluição do ar ficou muito ruim e matou muita gente em grandes cidades, como Londres, no século XIX, mas começou-se a pensar se se estava suficientemente rico para ter preocupação com isso. Naturalmente, esse era um problema, mas o que realmente afligia a humanidade não era o meio ambiente, e sim a falta de comida e as epidemias. Só quando você está de barriga cheia e não se preocupa com infecções pensa em atacar outros grandes problemas, como o que atinge o ambiente. Você precisa ter muito dinheiro para se preocupar com o ambiente, e isso em boa parte diz respeito ao interesse próprio. É claro que há exceções a essa lógica. Veja o caso das baleias. Elas foram caçadas impiedosamente porque forneciam carne, gordura e óleo em quantidades enormes. Hoje, sua caça causa repugnância. Ninguém mais precisa de baleias, nós só gostamos de tê-las. E isso é bom também.

Veja – Quais são as questões ambientais mais importantes para os ricos?
Lomborg – A única questão realmente importante para os países desenvolvidos é a poluição do ar, em especial a causada pela concentração de partículas. Isso ainda gera problemas. A agência ambiental americana (EPA) estima que de 83% a 96% de todos os benefícios sociais vindos de regulamentações ambientais se originem do controle da poluição do ar. E esse problema tem soluções cada vez mais eficientes nos países desenvolvidos. Ainda poderia ser melhor. Esse é um grande investimento. Todas as outras questões são menores. Obviamente seria bom se lidássemos com elas, mas não são tão importantes, comparadas com educação e saúde.

Veja – Quais são essas questões menores?
Lomborg – Poluição por petróleo, por pesticidas. Pesticidas na verdade são ótimos: eles nos dão comida mais barata, em especial frutas e legumes, e essa é uma das maneiras básicas de prevenir câncer. Embora pesticidas, ainda que regulamentados, causem câncer, estamos falando de cerca de vinte mortes por ano nos Estados Unidos. Eles economizam algo como 100 bilhões de dólares e 26 000 mortes causadas por câncer todos os anos nos Estados Unidos. Não se devem abandonar os pesticidas, porque eles são bons. Embora haja conseqüências negativas, os benefícios são muito maiores. Há outras questões, mas é crucial olhá-las no total e considerar se é necessário regulamentá-las. Existem muitas outras em meu livro, mas nada como a poluição do ar. No mundo em desenvolvimento, o meio ambiente não é a questão mais séria. Importa mais diminuir o número de pessoas que passam fome, melhorar a infra-estrutura e reduzir a pobreza. Se você pára de ter pessoas pobres, pára de ter queimadas na floresta tropical, erosão do solo, uso de combustíveis poluentes. Se as pessoas enriquecem, elas mudam de conduta.

Veja – Se o senhor pudesse se reunir com todos os chefes de organizações ambientalistas, como o Greenpeace, o World Wildlife Fund, entre outras, o que lhes diria?
Lomborg – Acho que eles conhecem a maioria dos meus argumentos. O problema não são as organizações. Eles são grupos de lobby, não se sentem responsáveis em retratar a situação mundial por completo, e estão certos nisso. Minha mensagem não é para eles, que estão fazendo seu trabalho de apontar os problemas, e isso é bom. Devemos ter organizações que mostrem os problemas. Nós só não devemos confiar que elas serão as mensageiras da verdade o tempo todo. Devemos tratá-las criticamente e sempre querer saber como está a situação como um todo. Elas têm um objetivo político definido, que é fazer-nos gastar mais dinheiro com o meio ambiente, enquanto eu quero informar as pessoas para que tomem as próprias decisões políticas.


4 comentários:

Edezio Junior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nayara César disse...

Essa entrevista é muito interessante. No entanto, discordo em grande parte das idéias do entrevistado. Lógico que a preocupação maior deve ser com os que têm fome, mas uma preocupação não exclui a outra. Quanto a ele dizer que só os ricos se preocupam com as questões ambientais é um absurdo! Talvez sejam estes os que mais prejudicam o meio ambiente.
Alguém me informa quem assinou o Protocolo de Kyoto?

Edezio Junior disse...

Fiji, Antígua e Barbuda, Tuvalu, Maldivas, Turcomenistão, Trinidad e Tobago, Panamá, Estados Federados da Micronésia, Paraguai, Guatemala, Uzbequistão, Nicarágua, Bolívia, Equador, El Salvador, Honduras, México, Samoa, Uruguai, Romênia, Argentina, Malta, República Checa, Mali, Papua Nova Guiné, Cuba, Noruega, União Europeia, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Eslováquia, Espanha, Suécia, Reino Unido, Japão, Letônia, Seychelles, Eslovênia, Costa Rica, Bulgária, Brasil, Chile, Tailândia, República Popular da China, Malásia, Peru, Vietnã/Vietname, Estônia, Coreia do Sul, Polônia, Nova Zelândia, Lituânia, Ilhas Salomão, Suíça, Ilhas Marshall, Santa Lúcia, Filipinas, Israel, Ucrânia, Níger, Rússia, Indonésia, Liechtenstein, São Vicente e Granadinas, Egito, Mónaco, Zâmbia, Croácia.

Kadinho disse...

Por que os Estados Unidos se negaram a aderir ao Protocolo de Kyoto?

Não foram só os americanos que se negavam a assinar o acordo. Países como Austrália e Canadá também não aderiram e a Rússia somente assinou o acordo após descobrir que com a adesão, eles poderiam usá-la como moeda de troca para conseguir ingresso na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Os motivos principais questionados por países que não aderiram ao protocolo é que, pelo documento, apenas os países mais ricos e industrializados seriam obrigados a reduzir as emissões, enquanto que países em desenvolvimento não teriam nenhuma obrigação. Pelo acordo, países como o Brasil, Índia e China, que também emitem grandes quantidades de gases poluentes, não seriam obrigados a cumprir nenhuma meta de redução de gases. Assim, é compreensível que países ricos sejam contrários às medidas impostas pelo protocolo.

Paralelamente ao Protocolo de Kyoto os americanos criaram um programa não obrigatório para sua própria indústria, denominada Iniciativa Céu Limpo, pelo qual, incentivos fiscais seriam oferecidos às empresas que reduzissem 3 tipos de gases, não incluso o gás carbônico. O fato do plano americano não incluir o gás carbônico é que, segundo eles, o efeito do gás carbônico ainda não foi comprovado cientificamente como responsável pelo efeito estufa.